top of page

Textos

 

  Artista jovem, Rogerio Cavalcanti, tem praticado o desenho, a pintura e a gravura, se aprofundando simuntaneamente nas três facetas

de arte, mas conseguindo mantê-las separadas, já que são três linguagens plásticas diferentes. Não se trata de transposições, mas sim de criações independentes. Como todo artista jovem, Rogerio procura sua linguagem particular e original. A técnica que já possui, o seu talento óbvio, a sua capacidade de criar uma atmosfera, permitem perceber do seu interior uma força brilhante.

 

Mark Berkowitz (1981)

 

 

  Rogerio é um artista que não admite surpresas que o ácido possa lhe darsobre sua água-forte. Seus cinzas, rosas e verdes estão sob controle. Suas imagens vivem num clima de solidão, quase de tragédia e no entanto seu lado amoroso e cheio de bom humor deixam as pessoas que convivem com sua arte num bom astral. Seus personagens, quase patéticos, emergem para um claro poético e vivem sobre finíssimas lâminas de humor.

 

Darel Valença Lins (1982)

 

 

  Curioso, pesquisador, inventivo, procurou adaptar à nossa realidade da precariedade de materiais o que havia aprendido.

Hoje Rogerio tem também dez anos de trabalho em gravura. Não é sua primeira exposicão, tendo já mostrado desenhos e pinturas.

Angustiado com a imobilidade da gravura tradicional, Rogerio quis atingir a mesma liberdade e espontaneidade da pintura, esticando o ato da criação até a prensa. Assim a mesma chapa se modula, se repete, se mutiplica, forma outras imagens, nunca é definitiva. Da pintura, Rogerio tranpôs, ainda, para gravura o tratamento de fundo, lidando com a chapa como se fosse uma tela. Rogerio sempre teve controle total da técnica, por isso podia inventar, experimentar. Desde o início entendeu e lidou bem com os processos, fator essencial para experimentacão.

 

Anna Letycia Quadros (1987)

 

 

 

Finalmente um gravador como Rogerio Cavalcanti, expondo na Casa de Cultura Laura Alvim, dá suficientes motivos para acreditarmos

numa nova arrancada da gravura carioca. Essencialmente gráfico, não faz, como muitos outros, desenho na chapa. A gravura é linguagem autônoma que requer, além da sensibilidade, o domínio da técnica. Rogerio  transita pelas duas áreas com maior desenvoltura.

 

Geraldo Édson de Andrade (1987)

 

 

 

“SOU MAIS MINHA ILHA”

 

  Como descrever bem, a trajetória e a visão de um artista gráfico, com mais de dez anos de estrada, que agora apresenta seus trabalhos? Se por um lado a atitude de engajamento de Rogerio Cavalcanti, às práticas da “Mass Media” e do marketing empresarial, deixa transparecer o sensível e o poético, o artísta gráfico, que procura entender o significado abstrato da arte e construir sua linguagem na babel de estilos contemporâneos, é inteligente ao passar, com suas gravuras e desenhos reproduzidos em belíssimos cartazes, mensagens claras com imagens sutis e bem elaboradas. Rogerio, em suas viagens de estudos, conta com uma proveitosa estadia no Croydon College of Art and Design, em londrina neblina. Deste período vêm suas imagens mais representativas junto aquelas feitas em outra ilha - a de Itacuruça, onde montou um rancho-ateliê para pintar, desenhar e traçar os criativos projetos que desenvolve no Ateliê 78 e em agências de publicidade - o caiçara arroja à areia a emblemática yuppie. Recebe e manda mensagem na garrafa. E é na ilha da criação, onde as portas da percepção se purificam, que cada coisa lhe aparece infinita. Entre infinitas possibilidades, seu método elege aquela que é mais objetiva e mais poética, como se vê nos projetos para capas de disco e nos catazes de teatro e de cinema. Em seu elogiado trabalho de diretor de arte, o homo faber descobre o ludicus, cita a história da arte e a iconografia moderna. Associa palavra (idéia) à letra, imagem (forma) em grafismo arrojado de refinada impressão visual.

Isso é arte? Para que serve a arte? Rogerio Cavalcanti tem o direito de não responder a tão vil inquisição, posto que tudo foi feito ritualmente para que nós fruíssemos, opinássemos discordando e aprovando, para que tivéssemos o prazer do olhar e a felicidade do encontro.

E se a generosidade do artista nos permitir responder, poderíamos fazê-lo com as palavras do vidente, pintor, gravador, impressor, poeta, o multi-media William Blake: “para dimensionar o tempo e o espaço aos mortais a cada manhã”.

 

Valério Rodrigues (1992)

Artista plástico, designer.

Mestre em Artes Visuais e Antropologia da Arte (UFRJ)

 

 

NOS TONS DA LEVEZA, O TOQUE DA BELEZA

 

Não espere dele angústias indecifráveis, cortes epistemológicos, densidades impenetráveis. O que não significa que o artista em questão não pertença ao reino dos profundos e verdadeiros. Rogerio Cavalcanti é um homen que sabe sorrir. É um pintor que trabalha com alegria,contando da natureza a leveza que há em suas cores, desde a amena claridade às sutis penumbras.

O que vemos em suas telas? Abstracões. Viagens em torno de tons tropicais, não necessariamente explosivos, como numa floresta amazônica, mas de um entardecer visto por uma janela do Jardim Botânico. Aqueles tons de repouso que o encontro do dia com a noite prenunciam. E aí nos sentamos diante de um de seus quadros  pedindo um solo de violão, como música de fundo.

Isto, porém, pode ser só uma visão das aparências, porque certamente há mais muito mais por traz de sua arte do que podemos compreender ao primeiro olhar.

Sobre isto dirão mais e melhor os críticos especializados e pessoas mais familiarizadas com a linguagem das artes plásticas e seus mais recônditos significados. Logo, este texto não traduz a opinião de um "expert", mas de um homem comum diante de uma série recente de quadros de Rogerio Cavalcanti e que, não dispondo de argumentos eloquentes, exclama com a simplicidade mais comum dos mortais:

-É bonito isso!

Pois há muita beleza na pintura de Rogerio Cavalcanti. E afinal, parece ser o estado da mais pura beleza interior o que êle procura com sua arte. É por na parede e trazer o belo para dentro. Para dentro de você.

 

 

Antônio Torres (1993)

Escritor, cronista e publicitário.

 

 

 

SOBRETELAS

 

Rogerio propõe em suas pinturas uma estrutura que nossos olhos percorrem livremente, tal como no codificado mundo em que vivemos,

de tantas telas e frames. Sobretelas o artista não apenas busca uma adequação entre as superfícies e o mundo.

Seu pensamento pictórico, antes de tudo, coloca problemas sobre as mais diversas coisas circundantes e as próprias do seu ofício:

a matéria e suas velaturas, as cores e os arranjos tonais, comunicando-se com uma técnica visual de complexas transparências, para citar apenas um fator de sua rica sintaxe visual. Água e terra são os principais elementos da pintura de Rogério Cavalcanti. É com eles que o artista realiza sua pintura sentimental. A leitura de suas mensagens em formas e cores é feita num tempo denso e ao mesmo tempo é prazeirosa. Sua pintura torna desnecessária a “história” imposta. Não tem que chegar a algum lugar, por meio de significados e muitas 

vezes com hipocrisia. Ela já está lá. É como mergulhar. Primeiro, a superfície e a seguir o todo.

 

Valério Rodrigues (2009)

 

 

 

 

Tenho acompanhado a trajetória artística de Rogerio desde quando estudamos gravura na Oficina de Gravura do Ingá (Rio 1978) com Anna Letícia Quadros, uma das mais importantes gravadoras brasileiras. Depois de seus estudos no Croydon College of Arts (Londres), montamos o Atelier 78 (Rio, 1984/1994). O Atelier 78 foi um centro de criação focado em gravura e pintura e Rogerio um de seus experimentadores que conseguiu ótimos resultados nas novas linguagens e procedimentos técnicos de gravação e impressão. No campo da gravura, da pintura e da assemblage (com notável combinação de ready mades e elementos da natureza), a criatividade e a busca do novo são embasados por uma disciplina libertadora.

 

Valério Rodrigues (2010)

 

 

 

20 MIL DECIBÉIS EM 30 SEGUNDOS

 

Ver Rogerio Cavalcanti criando uma nova capa de disco era como assistir de camarote a um show ao vivo.
Na verdade, era um entra e sai de grandes artistas da MPB que se apresentavam através das mãos dele e ganhavam

uma assinatura visual inconfundível. Eu tinha cadeira cativa no espetáculo porque fazia dupla de criação (eu, redator e ele, diretor de arte). Bem diante de meus olhos artistas da MPB, como Gilberto Gil, Jorge Mautner, Moraes, Pepeu Gomes e outros subiam sem cerimônia em nossas mesas e deixavam que notas musicais se materializassem em cores num mundo gráfico totalmente novo.

Eu via toda essa mágica encantado. Ficava vendo e ouvindo. Não dava uma palavra.

Nos intervalos dos shows comandados por Rogerio, outra trilha sonora embalava nossos corações e mentes para campanhas publicitárias.

A música estrangeira chegava em pequenas fitas cassette  preparadas artesanalmente com a ponta da agulha Shure e as profundezas dos vales dos sulcos de meus discos de vinil, que dividiam o palco com grandes nomes da música brasileira. Sem chiliques. Sem melindres.

Trabalhar com Rogerio treinou meus sentidos para solos mais altos.

 

Raul Miranda 

Publicitário e poeta.

bottom of page